domingo, 20 de março de 2011

Arame de Pão

Odeio gosto de pasta na boca. Me dá muita sede. E me pergunto porque sempre falo de coisas quotidianas, pequenas coisas, mas que existem e estão lá e fazem parte de mim, muito mais do que o naves espaciais tentando encontrar água em outro planeta. Haveria mesmo de ter água em outro planeta?
Bem, não tenho maist empo para hestórias pensadas, se é que um dia pensei em alguma. Mas as vivi, e tenho vivido tão intensamente que me falta tempo de escrever. Infelizmente.
Flocos iluminados rodando. Meu próximo título. Com licença.

sexta-feira, 18 de março de 2011

Memórias Menstruais

Olha, eu até me acharia uma filósofa entrando assim em discussões existenciais, moralidades inúteis, vida trivial, escrevendo fragmentos digamos, quase românticos, se não fosse, por um momento, quando se abaixa a calcinha e vê que era tudo hormonal, era o meu sangue que eu dava realmente pra passar por tudo isso.

A música do caminhão de gás me entrou feito água pelo ouvido como quando entra pelo nariz e arde a cabeça. E era de manhã, minha primeira sessão no psicólogo depois de anos sem análise. De novo, pensei. O que falar? Não banque a espertinha. Que droga, meu fone estava todo embaraçado e a música do gás tocando, queria que fosse faísca e explodisse. Quando consegui desenrolar, o caminhão já tinha ido. Depois me perguntei porque pintam a calçada de cinza se ela já é cinza.
Não há nada nesse mundo que mude o meu espírito, nem mesmo o chocolate, nem mesmo o choro sagrado. Caminhando pela Paulista inteira, chutando pocinhas de água numa chuva fina de março, aquela multidão desconhecida, sem nome nem cara, a gente vai pela vida sem saber mesmo pra onde se vai. Esvai.
-Tem muita gente no mundo.
E agora, sem sexo nem cor, tomo capuccino sozinha sentada num bar café granfino, finésimo. Senhores e senhoras idosos tomando sua xícara de café com espuma e comendo seu croissant requentado falando sobre histórias de viagens pela Europa. Tudo derramado. Meia luz, assim, soando tão cinematográfica essa solidão. Não sei porque insisto se capuccino me dá enjoo, mas não, estou mor-ren-do de vontade de tomar. Uma puta xícara de capuccino com canela, tão gostoso, mas ânsia depois, que azia, sassenhora. Sem sexo nem cor. Malemá me masturbar à noite, diacho. Ai, que solidão destemida.

Sessões psicológicas são meio desconfortáveis. No fundo ouvimos o que já sabemos, só que cara a cara, é um pouco preguiça e falta de vergonha. Sim, no fundo do fundo mesmo é um medo incontrolável de alguma coisa que não existe, que está no passado ou no futuro, mas não agora. - Viva o hoje.
Vamos ao menos jogar dama? Quando eu pequena era jogávamos joguinhos infantis e era divertidíssimo. Quero a minha mãe.
(a ânsia continua misturada com fome, já é tarde, preciso dormir)
Só agora consegui, depois de muito tempo, escrever. Suspiro grande.

Dia absurdo de sexta-feira. Queria tomar um drinque com alguém, atoa, qualquer um, pela rua encontrado, e conversar coisas banais. - São Paulo está lotada de gente. Que tal um rodízio? - É pois é, nem desconfiei que eu estava na TPM. isso existe mesmo? - Se existe... quase me corto o pulso, uma loucura.
Mas o filme, sabe, com a JulietteBinoche, é lindo, lindo mesmo, mas eu não entendi nada. Sendo realmente muito franca, eu não entendi na-da. Fotografia linda. Olha, aquele movimento de câmera me deixou mais enjoada que ó, só de lembrar me vontade de vomitar. E é demorado, nossa, dói o pescoço. Cinema sozinha, adoro. Mas sem sexo.

Antigamente eu comia pra caralho. Era um doce atrás do outro. Bombom por cima de bombom. Marrom bombom. Gritava com a minha mãe, chorava deitada no banheiro, escrevia as mais profundas palavras, estava quase pronta para ser uma atriz com uma carreira linda. Pronto, desceu, sangrou, é chico. Tudo por água abaixo. Aspirações filosóficas não mais. A vida passa a ser linda de novo, o outono com seu vermelho friorentado, as pessoas belas. Um mês. E assim, indo. Vida bandida. Tristes borboletas sangrentas. O ápice do nosso auto encontro, para acabar assim, sorridente. Ou não. Ou aquele gosto amargo na boca, parecido com gás de cozinha, que insiste em azedar seus dias.

Não era isso exactamente, mas é o que tinha pra hoje. Já voltei à minha vida banal de mulher, de homem, de puta, triste, alegre, feliz pra caralho, de regime, comendo muito.
Enlouquecemos.

segunda-feira, 7 de março de 2011

Eu sozinho

A cada momento infinito da vida
de arder de lágrimas os olhos no vento
a dor absurda de tudo
quanto é tudo que se vai

Não quis, talvez
mas nunca soube
a grande perda do
que nunca foi nosso
nem mesmo nosso eu
não se prende
só se aprende a doer
doer

Como foi ontem
e é hoje
e será amanhã
absurdamente cada dia
achando que o que te salavrá
são essas palavras rasas
escritas a tinta de caneta na parede
diluída
como se dilui o tempo
eterno num piscar de olhos

E você se foi
e um pedaço de mim foi com você
e ficou já o que não era meu
como uma mutação do que nunca existiu
mas sempre esteve ali, esperando
o momento pra nascer
como tantas outras que nasceram e morreram e se modificaram

Sempre o eu sozinho
apesar do outro