abri meu peito com a unha
e gritei um eco ensurdecido
silencioso alheio
aqui dentro tremia
eu sentia as ondas vibrando
eu sentia a música entrando
a saudade a dor
uma coisa estranha sem nome
minha maneira de estar sozinha
às vezes se repete
e repete sempre esse nó no peito
essa melancolia barata
que paira em mim
como uma nuvem de chuva em dia quente
paira em mim como
poeira que se vê brilhando ao sol
mas nada brilha
por um momento pareço estar plena
de alegria
cheia
inundada
de felicidade
dali a pouco uma estranheza me bate
soca o estômago
tento beber, nada
tento fumar, a fumaça me incomoda
tento não me ser por um segundo
mas me encontro sempre na esquina
fecho os olhos e me ver por dentro
me assusta mais
está tudo confuso
sangue com comida e órgãos
vitais batendo funcionando
mistura
o vinho a fumaça a música
a poeira do chinelo
o canto da unha crescido
a cutícula arrancada no dente
sangrou e doeu mais que seu coração
se eu tivesse uma rede
eu seria mais feliz
mas se eu tivesse a rede eu quereria um
carro
e então sim eu seria feliz
mas depois do caro eu quereria um rádio
e então assim
eu nunca serei
mas depois vou querendo mais e mais
pensamentos palavras
livros autores
e não vou parar nunca
com essa masturbação literária tão
ridícula
que eu cuspo cuspo
cuspo nela
renegando essa existência porca de
não se saber por completo
um pernilongo zumbe no ouvido
dou um tapa no ar
mas é inútil
lá fora não se ouve nada
ja é de manhã
de madrugada
de tempo nenhum que
não se conta aqui de dentro
é um tempo arrastado
dias de colheita seca
coração seca e enche
seca e enche
como uma bomba
e nada
nem tudo
nem o meio termo
sempre essa oscilação
de mim pra eu mesma
Nenhum comentário:
Postar um comentário