Ora, veja. É enfaticamente recomendado...
Ouço o choro dela daqui do quarto e acabo chorando junto, por dentro, sem lágrimas. Não sei o que se passa comigo, alguém sabe? Não quero te contar meus choros, não insista. E não insisti. De leve me levanto como quem se sente deixado de lado, não sei se de propósito. Caminho leve até o banheiro cuspir a pasta de dente crescendo na boca. Tem um olhar triste que nunca vi na vida, olhar de cachorro machucado, dolorido. Olhar de planta arrancada.
Que tristeza. Alguém me diga algo belo, sorridente, doce. Esquecemos de nos cumprimentar. Esquecemos das nossas melhores atitudes, polidas, delicadamente amorosas. Não digo de bom dia boa tarde boa noite, digo e sinto tudo o que é mais simples que isso. Meu dia será bom sim, mas não pelo seu falso desejo, será bom porque eu farei dele um dia bom, uma tarde boa e uma noite talvez melhor. Passarei creme nas minhas pernas peludas como uma boa moça deveria fazer. Devo cuidar da minha pele, ela me suporta inteira e merece carinho. Mas... nos esquecemos. Digo isso sem dor, já doí demais. Digo isso serena...
ela desliga a TV e geme baixinho um choro contido. Que passa?
se tem uma coisa que odeio é essa porta sendo arrebentada toda vez que se abre.
Nem tudo é sobre uma coisa só. Me rodeio de assuntos; de facto me rodeio de mim. Queria deixar claro, veja bem... O amor não é amor por ser pronunciado. O amor nem é amor de verdade, é uma tapeação. Ele poderia ser muito mais se não fosse assim pulverizado com spray de matar insetos. Se não fosse isso, mas talvez aquilo. Se fosse sentido mais do que sentido menos e falado mais. Mas eu já não sei, sinto falta das duas coisas. Não choro, menino, não chore. Como diria Drummond: Mas.. e o humour?
O humor se perdeu na primeira porta que se abriu arrebentada. Jamais, nunca. Sempre sobrevivemos.
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