sexta-feira, 30 de julho de 2010

Yakult

Mais pra pensar do que pra comer algo, ele abriu a geladeira, e uma brisa leve encostou no seu rosto quente. Dia quente. Pra pensar: Quem será que está abrindo a geladeira exactamente nesse segundo?
Coisas vagas. Sozinho em casa. O dia está realmente muito quente e era inverno.
Tomou banho tão pensativo. Lavou o cabelo, deixou a espuma entrar um pouco nos olhos, sem querer, e ardeu, e a espuma caiu pelo corpo, abriu a boca e bebeu um pouco de água, depois cuspiu pra cima. Sede. Dia quente. Fazia as coisas como sempre fez. Talvez algum dia não fizesse mais aquilo como sempre costumou fazer. Talvez alguém o impedisse, talvez apenas morresse sem tentar de outros modos. Talvez não quisesse tentar de outros modos. Deveria? Sabonete no sovaco enrolado de pêlos.
Espinhudo. Ainda pensou porque não haveria alguém ali, tomando banho com ele, cuspindo água na sua cara, água quente com saliva. E os dois ririam. Ele e ela. Alguém qualquer, qualquer uma, a vizinha, do bar, a balconista da loja, a patroa do irmão. E ela seria como? Coisa boba de se pensar. Não haveria porque não haveria ninguém ali, oras. Será que faço a barba? Gosto dela assim, fico com cara de sério, sério nerd, sério sozinho, sério-abro-a-geladeira-pra-pensar.
O sol entra pela janela do quarto que fica exactamente na frente do banheiro. Luz da tarde, alaranjada e reflete no box cinza. Pensou em tirar uma photo da sua silhueta atrás do box. Mas ficou com preguiça de pegar a camera e além do mais, ia molhar todo o chão, que preguiça. Ai, que preguiça. Terminou o banho.
Pelado foi até a geladeira, abriu, coçou a cabeça e pegou um yakult, o último dos últimos. Porque não? E mordeu com toda força a bundinha do yakult, um furinho, tomar pela bundinha, ele aprendeu isso com ela, que não era alguém qualquer da rua, nem do bar, mas ela que lhe ensinou tomar yakult pela bundinha.
Lá vai eu de novo em crises existenciais de: quem sou eu?

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Mais do que Isso

O dia todo de pernas pro ar, fazendo poções culinárias na cozinha com sorvete de creme e suco de laranja, porcarias. Lá fora o céu azul, um sol de bronzear calmamente a pele que é soprada pelo vento morno, meio gelado, meio ventania que me leva pra qualquer lugar.
À tardezinha, quando o céu começa a ganhar tons alaranjados, quando o vento sopra um pouquinho mais forte e o silêncio na rua é quebrado por latidos lá no fundo, por marteladas e passarinhos... acendo um cigarro que escondi atrás dos meus livros na estante, guardo o isqueiro no bolso pra fazer pose, ah! o céu, ah, essa terra que deus me deu, essa vida besta, meu deus. Lentamente fui deitando no chão sujo de casa, encostei a cabeça no degrau, eu de roupa folgada, quase uma mendiga, de pijama, meias laranja, chinelo fru-fru que ganhei da minha mãe, relaxo, e ouço a música entrando no meu corpo junto com a fumaça, eu sei, não me faz bem, mas quem se importa? se isso de ver o céu me faz tão bem, sou quase uma nuvem me dissolvendo com o vento. Essa cena linda do meu filme imaginário, quotidiano, realista surreal, que construo com minha própria imaginação de menina-que-fuma-por-graça. ( na sacada de algum apartamento, num dia qualquer, alguém diz que fuma porque acha bonicto...).
Simplesmente, às vezes, não há o que acharmos. Há o que há. E havia eu e o céu, ínfima como uma formiga, eu o admirava de barriga pra cima, o sorriso extasiado de canto. E eu não queria nada mais do mundo, só estar ali, eu com o céu na nossa partilha. Partilha.
E apaguei o cigarro e a música acabou. Mas eu ainda era toda céu, toda nuvem. Eu era muito mais do isso.

 Para ler com More Than This - Norah Jones

terça-feira, 20 de julho de 2010

Letra Antiga

Olha, olha a hora
vou embora
colabora e não chora
porque agora
tá na hora da gente
se separar.

Vai! Não quero mais
minha paz
meu rapaz, foi fugaz
o que o amor traz
tanto faz
porque agora ele morreu.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Dois Mundos

Ela me beslica me atiça
me cortiça
Contando nos dedos
os dias pra ver meu cabelo molhado
meu tipo de papo
o dia do plano
Contando nos brancos
tijolos de louça da vida
quantos tijolos de barro
foram quebrados
Ela me apanha
me cutuca
me ignora
Contando nos laços
os abraços que tivemos
e ainda põe em cima
do criado
que não é mudo
uma foto
de quando tinhamos dois
dois mundos.

Adeus, Fusca Azul

Uma homenagem surreal ao Fusca Azul Calcinha
que me acompanhou
em momentos marotos
e malandros
de lembranças e apego sentimental.
Sentirei muita saudade, até de te judiar andando
com o freio de mão puxado
e encostar a roda na guia
e xingar os outros motoristas que andam devagar na minha frente.
Que seu cheiro de gasolina continue
incendiando meu coração fraco.

Com carinho,
Cássia, vulgo Francisquinha.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Saia Rodada

Vou rir até o sol explodir na minha boca.
Vou chorar até a chuva despencar no meu corpo.
Vou dormir até a noite dar lugar ao meu banho
e correr até o dia nascer
em direção do mais puro
perfume da folha verde
em movimento
em movimento
em movimento
a natureza
em movimento.
Passou pelo sorriso
toda a alegria da vida.

Lente

Mas para eu escrever tudo é como se me fugissem as palavras.
Às vezes ninguém me olha. Não noto muitas pessoas, outras me chamam muito a atenção. Nos pontos de ônibus os olhares se cruzam. As pessoas ameaçam e se sentem ameaçadas, outras simplesmente não estão lá. O contacto diário com outros olhares, outros corpo, um fio de cabelo, um lenço, como o ar que respiramos, e nos obriga a respirar.
É preciso ver - frase de muro.
Mas ver o que? Ver-se?
Às vezes passo o dia todo em casa, comigo mesma. Às vezes saio por aí e vejo todo mundo, comigo mesma. Nos ônibus que entro, há sempre alguém que senta ao seu lado quando você não quer que sente. E o ônibus sempre passa quando você não precisa. Há sempre uma criança chorando no colo da mãe ou um idoso ocupando o banco reservado. Ou uma jovem ocupando o banco reservado que não sai quando chega alguém " nessas condições".  E uma mulher cheia de sacolas saindo pela frente. Alguém que perde a carteira, alguém chamado Henrique, alguma chama Neusa, eu que me chamo tantas. Há aqueles que te olham de fora quando você está dentro. E os que te olham de dentro quando você está fora. Incasavelmente, todo dia, toda hora, uns olhos perdidos, no mais fundo da noite, no raiar do dia, na chuva da estrada, na banca, no ponto, na linha cruzada, no fogo morto.
Um mendigo olhará com olhos cansados, como os meus nesses dias, e te implorará, sem dizer uma palavra, o quanto carregar aquele trapo nas costas, dói tanto. Benditos sejam os presos pela liberdade.
Pela liberdade. É uma coisa, que depois de pensar muito, cheguei a conclusão ( inútil, como todas as outras) de que não existe. A liberdade. Não existe. Estaremos enfadonhamente sempre presos a alguma coisa, mínima que seja. E que exista., de facto a liberdade, estaremos presos a ela. E isso é algo que não podemos controlar, como o fio que cresce na cabeça ou a bala perdida ao meio-dia.
Olhe olhe olhe olhe pra mim.
Depois de um banho vou dormir com os olhos pesados. Depois disso não sei mais.

Isqueiro Azul Diluído

Num tempo surreal do próprio tempo, nos perdemos e nos ganhamos nessa corrida, não armamentista, mas vital, mas passageira, mas qualquer coisa que evapore como o perfume do meu pescoço em narizes alheios que passam, silhuetas, e a natureza do vento tirando camada por camada da minha superfície.

Ela estava alterada pela cerveja que compramos de litro num bar qualquer ali na Augusta. Não gosto de cerveja, já deveria saber, mas tomei alguns goles. Enquanto eu bebia um, ela já estava no segundo, tão rápido ela engolia cada gota. Começou a me beijar enlouquecidamente que não parava mais. - Vai ficar ai sentada? - me perguntou, desafiando. Lerda como sou, pensei por 3 segundos e me toquei que ela queria dançar. - Ah, quer dançar? Vamos. Levantei e a puxei pela mão que deslizou num segundo para sua cintura. Seus braços para o alto, ela dançava colada em mim, meio bêbada, mais uma gota para a devassidão do seu corpo. Me beijava dançando e eu reluzindo, quase parada, sem acompanhar seu ritmo sensual. Que quenturão, essa meia luz quase escura, um porão quase abafado, aquela gente que eu nunca vi na vida, uns mocinhos sentados ali no sofá, outros na cadeira, mas ninguém nos olhava, era eu e ela dançando no meio, sem se importar com nada. Deslizando os corpos no chão deslizando na música, qualquer coisa alternativa que eu conhecia, mas era um voz feminina num ritmo dançante e isso já bastava para acender nosso fogo já aceso. Me colando num pilar qualquer, me beijava me beijava me beijava e eu a apertava contra meu corpo, não não não, não acreditava, que coisa, é essa, menina? O que que é isso? Nunca te vi assim.
Qualquer canto que encontrávamos ela me colava na parede, me beijava, e às vezes eu tentava sair para pegarum cigarro e ela me falava, sedenta ainda - Porque você não me põe na parede? - e eu ria, fazendo um charme, de " espera mais um pouco, porque não vamos ali com os outros? " e a pegava pela mão, como meninas comportadas. Vai, vamos fazer igual nos filmes, que você pega um cigarro e eu tiro do meu paletó o isqueiro para acende-lo, sem você pedir, mas porque eu sou muito rápida -  mas eu não tinha paletó, só um blazer sem bolso - fingi que tirei de dentro e ela acendeu o cigarro, soltou a fumaça, depois me deu. Guardei o isqueiro no meu bolso da calça jeans. Não estava frio, mas o vento leve arrepiava seu corpo quente. E me puxou de novo pra porta fechada de um bar e quase me queimou com o cigarro.
Naquele dia, e era um dia qualquer desses dias qualquer numa tarde tarde qualquer com céu azul e quente em pleno inverno, que eu nunca entendi, afinal, e a gente andou muito o dia todo, pra nos recompensarmos com um banho delicioso em qualquer banheiro pequeno desses apartamentos em algum lugar de São Paulo. Ah, São Paulo. O dia estava lindo. E passaria voando como qualquer outro. Passaria voando como passa o tempo quando queremos que ele passe lento. E passa lento quando queremos que passe rápido.
E as cenas se misturavam também nesse tempo diluído, entre uma e outra pessoa, que eu já não sabia mais quem era. Entre um dia e outro. Voando, passou voando. Quando dei por mim, estava dormindo em pé no ônibus de volta casa, de manhãzinha, as pessoas indo trabalhar e eu voltando da rua, o pé doendo por causa desse maldito All Star que pegou no meu dedo a noite toda, sem contar a longa, longuissima caminhada na madrugada, pela paulista inteira, falando sobre porcaria nenhuma e hotéis abertos com quartos baratos e bordéis pela América Latina ou bêbados de carro com som alto que, ao invés de dormirem, ficam zanzando pela cidade em busca de uma gatinha fácil.  Saldo: zero. Mas eu faturaria muitas e nem precisaria de um carro com som alto, seus merda. Mas eu não. Dissemos, alguém disse, eu disse, não sei mais quem disse. Mas agora era eu e ele só naquela imensidão de avenida que não acaba mais, morrendo de fome, os dois. E é certo que fomos quase o caminho todo falando de comida, e nada naquela joça estava aberto. - Queria uma coisa bem gordurosa agora. Hm, uma pizzza de calabresa - adoro calabresa - uma coxinha, feijoada - que tal? - feijoada. Dissertamos sobre a feijoada: uma feijoada bem suculenta, com uma farofinha assim, com laranja, uma couve bem refogada - pára, ai, meu estômago - puta que pariu, que delícia. - um arroz bem soltinho. Delirávamos.  E isso me fazia esquecer um pouco da insuportável dor no meu pé. Comida comida comida. - Bem, pelo menos já estamos quase chegando, já passamos o Masp. Nossa, como tem gente por aqui, não estava assim quando fomos.
Lá estavamos nós, a perna latejando de tanto andar, água água água e uma coxinha do bar da frente, per favore. Não quer cerveja. Cuspi água na cara de alguém. Não lembro exactamente que momento foi isso, já estava tudo evaporando, o tempo, as pessoas, os factos. Mas evaporando não de droga ou qualquer coisa química que eu tenha injetado, ou alguém, ou qualquer coisa que soe como psíquico, mas o tempo se evaporava num piscar de olhos. Muitos risos malígnos de minha parte. E ela veio com metade da garrafa querendo me molhar, não antes de eu, num movimento ágil, dar um tapa por baixo e fazer voar o copo com cerveja nela. Mais mais mais mais risos.  E ela puta vida. Tudo bem, segundos depois ela estaria fazendo massagem no meu pé e me jogando no sofá pra fazer massagem nas minhas costas. Mas você não sabe a marotisse que é remoer isso tudo deitada na cama, tentando relembrar os momentos, bocado por bocado. Aqui e ali. Alguém. Nunca fui senão tão babaca com uma roupa qualquer, meio amassada e usada do outro dia. Ou largada pela vida sem me importar se era água ou cerveja que jogavam em mim. A vida era outra coisa muito mais que isso. A vida é muito menos do que pensamos.
E de repente me vi debaixo do chuveiro. Mais de repente ainda acordando de tardezinha, com o sol já se pondo. E era sonho? Eu que queria lembrar de tudo, mas os dias se diluem no tempo e não sabemos com quantos anos estávamos ontem. Amanhã talvez eu esqueça, como passa, e que puta, agora, lembra do seu homem da noite? É sempre outro, é sempre ela. E fui embora.

domingo, 4 de julho de 2010

Ó ou

Cante comigo, mocinho. Você vai crescer e vão falar pra você não correr na rua e olhar para os dois lados para atravessar.
Já pensei em como seria correr pela rua, tropeçar e um carro me atropelar, sei lá, pensei.
Mas veja como é lindo, veja bem, a relação humana. E isso soa meio irônico, até pode ser, mas acho que exactamente nesse momento não estou usando a ironia como um mecanismo de defesa, mas achei que aquilo de lá é de uma beleza tremenda que eu sorri de orelha a orelha. Cante comigo em inglês, enrolando, é claro.
E veja como o destino sim é ironico, porque poderia ser eu naquela circunstância farfalhando os galhos do outono bem no meu ouvido com gotas de vento. Poderia sim. Mas... mas, eu achei, de coração mesmo, que há uma beleza que eu não achei que veria. É a beleza do tempo e da espera, de uma certa maneira. E é a beleza de aceitar que estamos no verão quando queremos o inverno e que o horóscopo sempre vai achar que comanda sua vida, quando de uma hora pra outra comemos maria mole.
Abri a geladeira e tomei iogurte de frutas vermelhas, mas era um sabor de leite muito fino, que eu degustava imaginando que eu nunca havia degustado um sabor gostoso de iogurte de frutas vermelhas. Tinha ainda na porta da geladeira: Coca-Cola Diet, Vinho branco, Vinho Tinto de Mesa, alguns molhos, cerveja preta, chantilly, e afins. Hm, vou assaltar a geladeira à noite, comer uvas verdes com chantilly e tomar vinho branco, ouvindo um jazz ou um blues. Porque não? Afinal, sempre digo, a vida é um prazer. E o prazer só é possível depois da dor. É como comer uma comida muito ruim e depois comer um manjar maravilhoso. Veja como meus prazeres tem sido, além de olhar pela janela fumando um cigarro preto, comer feito uma morta de fome. Mas a questão, no fim é, eu sempre gostei , mas agora meu paladar está aguçadissimo e já sei distinguir os sabores de vinhos. Os baratos que bebiamos na praça eram bons, mas naquela época. Quando a menina entrou em casa e com um vinho Cantina da Serra na mão me disse:" Comprei pra fazer espanhola, e não pode ser vinho chapinha, tem que ser esses daqui". U-au, que malandragem, pensei. Adoro espanhola. Andalusas? Como as raparigas andalusas costumavam fazer.
E os burrinhos meio dormindo escorregando pelas ladeiras sempre imaginei que fosse uma cena linda. Agora sim: E as moças espanholas de chale rindo rindo de ronda olhando para o amante dela pelas frestas das venezianas das casas amarelas e dos jasmins de Gibraltar. Mais lindo ainda: Quando eu menina era como uma flor da montanha.
Trechos de Ulisses, James Joyce, no solilóquio de Molly Bloom. Derreto-me recitando o bocado deveras grande desse solilóquio.

"Eu nunca mais vou respirar se você não me notar"

Équixagerado.

Mas voltando ao assunto, ó senhores condecorados, eu gostaria muito, nessa madrugada, poder sentar nesse sofá branco e olhar através do vidro a silhueta das árvores grandes que embelezam a paisagem, sob a luz da lua numa oitava maravilha inacreditavel. Danço sozinha, sempre. Nunca enjoo. Depois fico mais ou menos embriagada, porque você já deveria saber que adoro vinho branco, mas posso beber dos dois. Prefiro água às vezes, na maioria. E vou pensar na vida como bem me ponho a fazer. Às vezes concluo alguma coisa mínima. Mas concluir alguma coisa é excluir outras. Que seja.
Acabei de ler num perfil: Completamente apaixonada pela vida.
Alguém me explique isso. Não há, nesse mundo humanamente impossível, amar completamente a vida, assim como não há como amar completamente a si mesmo, no maior narcisismo que haja, ó meu caro.
Ela caminha até a cama, vê a imagem de Jesus de Cristo europeizado e se sente melhor. Assim como eu acordo, olho o a luz doirada do céu nas folhas verdes e me sinto melhor, assim como outrem acorda e bate o nariz num pózinho branco. E nada disso é condenável. E que diabos estou fazendo?
Dancing in the rain. Ó ou.
Ou não.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Me dá

Ela tem uma boca que te come só de você olhar pra ela. Ela tem um cabelo que te cobre só de você cogitar em acariciá-lo.
E os olhos são grandes feito boneca de porcelana, mas ela é morena. Morena cor de jambo. Manga rosa. " Eu quero o gosto e o sumo". E se eu te contasse que os beijos são extasiantes, de virar os olhos e se perder nessa sintonia diluída entre tempo-prazer-amor.
E ela tem um calor que exala no mais frio possível da noite e te esquenta como um edredon dormido.
O meu edredon dormido. E a gente fuma sem gostar, pra fazer pose. E a gente vai desconfiadas no ônibus e eu a puxo pelo braço pra gente correr e ela fica me falando pára pára e corre mesmo assim. Depois eu a jogo no chão no meio do parque e roubamos flores do parque e somos vistas. Até perseguidas, se bobear e corremos de medo pra ninguém nos ver com a bolsa cheia de rosas vermelhas-amarelas-rosas.
Mas acontece que eu tô com saudade.
Acontece que a rosa vermelha linda que eu ganhei já murchou. Quero outra.
Pode me dar.
Trate de me dar.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Hino Matinal

Ali quase perto
vejo sempre as árvores cheias
balançando com o vento
e é lindo tudo isso
porque não há, sequer, nenhum pensamento
que mistifique tudo
porque elas só são árvores e balançam com o vento
como diria Alberto Caeiro
e o sol deixa suas folhas douradas
verde dourado
amarelo ouro
verde das melancias
quase que um hino que eu conheço

Sempre as vejo das minhas janelas
que também não são secretas
e me levam pela manhã
pelo por do sol
pela noite infinita
azul bem escuro e poucas estrelas
desse céu.

Me acalmo e calo
pensando que é isso
tudo o que eu sempre quis.